Um curinga é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e em de espadas. Não é oito nem nove, nem rei e nem valete. É um caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo lugar das outras cartas, mas aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele.
Li isso num livro de Jostein Gaarder, "O dia do Curinga", e de repente comecei a pensar. Sou um curinga. Deus, eu sou um curinga!
Você já se sentiu como se não fizesse parte disso tudo? Não de uma família, de uma escola, de um grupo social.. mas do mundo. Como se você fosse meio alienígena, e passasse longos períodos de devaneio e ausência como se em contato com o lugar aonde realmente pertence. Esse é o drama dos personagens de livros e filmes. Dorothy não estava satisfeita com o Kansas - precisou ir além do Arco-íris, em Oz, de Munchkinsland por uma gingantesca estrada de tijolos amarelos até a Cidade das Esmeraldas só para descobrir que o verdadeiro lar dela era onde sempre esteve. A teimosíssima Alice correu o País das Maravilhas e ainda o Reino dos Espelhos, mas sempre queria voltar para casa no final. Lucia, Pedro, Susana e Edmundo Pevensie viveram aventuras em Nárnia e acabaram voltando para a Inglaterra...
Ninguém nunca percebeu que eles tinham ido.
Algumas pessoas nascem sem lugar. Descobrem o lugar favorito no mundo, talvez, com as pessoas que amam. Eu tenho o meu, Dorothy tinha o dela.. mas não pertencia à lugar nenhum, na verdade.
Eram todos curingas. Separados do seu baralho, o mundo continua girando perfeitamente bem, obrigado. Mas não somos todos nós? Não pertencemos àqui, é essa a verdade. Simplesmente continuamos o jogo, algumas vezes se sentindo tão importantes, as outras nãos... apenas cartas. Esperando e esperando, dia após dia, pelo Dia do Curinga.
Você escreve incrivelmente bem. Estou te invejando nesse momento!
ResponderExcluir