E uma carta. Minha. Que eu nunca enviara.
Desdobrei a folha de caderno, senti a textura da pressão da caneta no papel gasto. Era a minha letra meio engarranchada, um canto no alto datava uns dois anos atrás. Eu tremia. Impressão minha ou aquela mancha vermelha cheirando à ferrugem era sangue? Não era impressão - como se eu não me conhecesse.
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| "Enquanto eu lia as frases eu soube que quando eu as escrevera, cada uma delas tinha doído em mim" |
Quanta bobagem.
Ri. E todo aquele sentimentalismo barato, o sofrimento gratuito, o drama adolescente, as juras - até a mancha dos meus punhos cortados - tudo tornava-se cada vez mais ridículo aos meus olhos. Era engraçado. E eu ri, e eu ri, e ri. Achei graça por ter acreditado em tantas mentiras. Por ter criado expectativas. E, principalmente, por ter me levado tão à sério.
Me levantei, ainda segurando a carta. Me mirei no espelho comprido na parede amarela. A parede era melancolicamente lilás quando a carta fora escrita. Agora meus cachos haviam desaparecido, até meu corpo havia mudado. No lugar dos cortes do antebraço, finas cicatrizes esbranquiçadas - aquelas, que nunca se cicatrizariam. No lugar do olhar vazio, um brilho desconfiado, ares de "não ligo" e um sorriso torto e aberto de quem tinha consciência de sua insignificância e achava graça disso. Um sorriso que dizia: eu sou jovem e ainda me resta muito sangue, muito suor, muitas lágrimas e quantas canetas meu dinheiro puder comprar. Então acertemos sem medo de errar, mantendo a fé e sem superestimar a dor.
A gente tem que esperar pela felicidade até enquanto se está triste.

que..foda! vc é muito linda, em todos os sentidos, gab, sou tua fã! e tipo..sério..foda o_o eu tbm já vi coisas minhas que eu escrevi e ri depois D:
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